Estilo musical de extrema riqueza e versatilidade, o jazz nasceu das canções dos escravos negros americanos, em seu processo de adaptação à nova cultura, e se consagrou como forma de expressão artística universal. Na forma tradicional, o jazz é um estilo de música que permite ao intérprete desenhar variações melódicas sobre uma base harmônica determinada e com ritmo regular, de modo a enriquecer, com ornamentos e improvisações de grande força expressiva, um esquema musical originalmente simples e uniforme. Enquanto sua instrumentação, melodia e harmonia são européias, o ritmo, o fraseado e certos temperos harmônicos derivam da música africana.
A primeira forma importante de expressão musical nascida nos Estados Unidos e de matriz africana é a chamada work song (canção de trabalho). Cronologicamente, aparecem depois o spiritual e o blues. Enquanto o primeiro tinha caráter coletivo e religioso, o segundo era individual e profano. O blues é a mais importante das raízes do jazz, inicialmente como expressão vocal. No plano instrumental, o ragtime (estilo pianístico baseado num ritmo fortemente sincopado, e que constitui uma espécie de versão negra das polcas e valsas importadas da Europa) é outra raiz fundamental.
Originalmente, o blues era um tipo de música folclórica, criada pelos escravos. Surgiu no século XIX, como uma espécie de profanação e individualização do spiritual. Seu traço característico, a chamada blue note, ou nota triste - responsável pela pungência do blues - representou a "ponte" natural entre a escala européia, de sete sons, e a africana, de cinco. Em paralelo à formação do jazz, o blues evoluiu como estilo musical independente.
Se o jazz recebeu do blues a ambiência melódico-harmônica, o ragtime foi decisivo na formação de sua dinâmica rítmica. O ragtime mostrava-se quase o oposto da liberdade e da expressividade do blues - era uma música formal e escrita. Contudo, foi ele que deu ao jazz um sentido crucial de melodia, de forma e, provavelmente, de harmonia. Com os rags de Scott Joplin, construídos segundo o modelo de peças "eruditas" populares, essa música caiu no gosto do povo, comercializando-se rapidamente. Depois de Joplin, os rags tiveram como maior cultor James Scott e persistiram residualmente até a década de 1950, nas mãos de compositores como Joseph Lamb.
O berço do jazz é a Nova Orleans da virada do século, em cuja zona de meretrício, a famosa Storyville, surgiram os primeiros grandes músicos da nova tendência. Nas ruas da cidade se formaram, também, as primitivas orquestras de jazz - as brass bands, fanfarras de negros e que desfilavam durante o Mardi gras, manifestação tradicional de caráter carnavalesco, além de tocar em casamentos e enterros - e as jug bands, grupos que acompanhavam cantores de blues e usavam instrumentos feitos em casa, a partir de garrafas, caixas de charuto e até tábuas de lavar roupa (washboards).
É dessa época o primeiro grande músico de jazz, o lendário cornetista Buddy Bolden, barbeiro de profissão que morreu em 1931 e não deixou gravações. As orquestras de Joe "King" Oliver, Freddie Keppard, Bunk Johnson, "Jelly Roll" Morton e Sidney Bechet foram as primeiras a enunciar os contornos do verdadeiro jazz. A partir de 1916, com o fechamento da zona boêmia de Storyville pela Marinha americana, o jazz trocou Nova Orleans por Chicago, onde reinaram músicos como "King" Oliver, Sidney Bechet e Louis Armstrong.
O primeiro disco de jazz foi gravado em 1917, pela Original Dixieland Jazz Band - uma orquestra de brancos. A partir de 1923, "King" Oliver faria as primeiras gravações importantes do chamado estilo Nova Orleans, caracterizado pela improvisação coletiva, que produzia uma polifonia espontânea sobre um ritmo sincopado. A corneta ou trompete conduzia a linha melódica principal, o clarinete adornava o tema e o trombone funcionava como um apoio rítmico-melódico. O contrabaixo (ou a tuba), o banjo (ou a guitarra) e a bateria (ou a tábua de lavar roupa) forneciam a sustentação puramente rítmica.
A improvisação individual no jazz começou com o trompetista, cantor e chefe de orquestra Louis Armstrong, para muitos o maior músico de jazz de todos os tempos. Sua técnica prodigiosa transformariam a música coletiva e primitiva de Nova Orleans, voltada para o entretenimento, num modo de expressão universal, que valorizava a interpretação individual e a forma "tema com variação".
As manifestações jazzísticas, profundamente variadas, deram origem à formação de muitos estilos, alguns até simultâneos. A partir do estilo New Orleans, ou tradicional, surgiu o chamado Dixieland, mais leve, brando e harmônico, que se desenvolveu em Chicago. A segunda metade da década de 1930 marcou o auge do swing, que desenvolveu duas correntes: o estilo dançante, típico das grandes orquestras de Benny Goodman, Charlie Barnett, Tommy Dorsey e Glenn Miller; e o de solistas como Art Tatum e Teddy Wilson (piano), Lionel Hampton (vibrafone) e Gene Krupa (bateria). O compositor, pianista e arranjador Duke Ellington foi um dos primeiros a criar composições jazzísticas especialmente para grandes orquestras.
O renomado pianista e compositor Count Basie sofreu influências de monstros sagrados como Fats Waller e Willie Smith. Chefe de uma das mais bem-sucedidas orquestras da história do jazz, Count Basie era dono de um estilo forte e renovador, até hoje o que há de melhor em termos do jazz fundamental.
O boogie-woogie apareceu em Chicago no fim da década de 1920, com seu estilo fortemente sincopado. O bebopHarlem, com as primeiras jam sessions, sessões musicais informais que aconteciam após a meia-noite (donde jam, iniciais de jazz after midnight), isto é, depois do horário de trabalho dos músicos. O bebop superpôs acordes adicionais a esquemas tomados do jazz tradicional, além de romper com a excessiva regularidade rítmica que caracterizava os estilos anteriores. A complexa improvisação resultante criou o ambiente no qual se destacariam figuras como o saxofonista e compositor Charlie "Bird" Parker, considerado o maior improvisador da história do jazz; o trompetista Dizzy Gillespie, que se transformou no próprio símbolo do bop; e o pianista e compositor Thelonious Monk.
Na década de 1950 surgiu o cool jazz, cujos tons tinham maior suavidade, intimidade e densidade, incrementados por um ritmo lento e vibrante. Seu mais célebre representante foi o trompetista Miles Davis. É dessa época o quarteto de Dave Brubeck, também ligado à estética cool. O hard bop, tendência diametralmente oposta surgida no mesmo período, provocou nova revolução a partir da década de 1960, com a revitalização do bop, a redescoberta de Thelonious Monk e o reestudo da obra genial de Charlie Parker.
Essa renovação abriu caminho para correntes de vanguarda, como o free jazz ou new thing (coisa nova), caracterizado pela improvisação total e pela ausência de qualquer trama melódico-harmônica preestabelecida; e o jazz modal de Charlie Mingus, de cunho mais intelectual. O estilo de fusão denominado jazz-rock, do princípio da década de 1970, levou músicos como o pianista Chick Corea e o guitarrista John MacLaughlin a experiências com instrumentos eletrônicos. A década de 1980 trouxe um retorno às formas mais tradicionais e ao clássico virtuosismo instrumental, que tem no trompetista Wynton Marsalis seu maior cultor.
Dentre as maiores vozes femininas do jazz de todos os tempos estão Bessie Smith, famosa como intérprete de blues; Billie Holiday, a mais importante cantora de jazz da década de 1930; Sarah Vaughan, extremamente ligada ao bop entre 1940 e 1950; e Ella Fitzgerald, entre as vocalistas, uma das maiores recordistas em vendas de discos.